Os
taxistas da nossa freguesia acusam de concorrência desleal um
serviço de transporte às cavalitas, que funciona através da
Internet e permite às pessoas chamaram um carregador que, por metade
do preço, as leva às costas até ao seu destino. O caso já levou a
agressões, tendo os taxistas enfiado a cabeça de um carregador na
sanita e dado a descarga.
Cada
viagem às cavalitas pode custar 1 euro por quilómetro e o
passageiro
pode levar as sacas de compras penduradas na boca nos moços. |
O
serviço é recente mas já é um sucesso na aldeia de São Firmino.
Onde quer que a pessoa esteja, basta pegar no telemóvel e chamar
pela Internet um carregador, que em poucos minutos vai ao seu
encontro e carrega a pessoa às costas até ao seu destino.
“Olhe,
senhor, a mim dá-me um jeito muito grande porque eu ò sábado vou à
feira, a Vizela, e se vou estar à espera da camineta é um atraso de
vida porque eu, quando lá chego, as feirantes já só me querem
impingir nabiças murchas e diospiros tão relados que nem os porcos
os querem. Ò pr'a cá, costumava vir no táxi do Fredo, só que ele
é um aldrabão, porque pôs um fundo falso na mala do carro e
rouba-me metade das compras”, contou a Ernesta do Cabral, cliente
assídua do transporte às cavalitas.
Além
da rapidez, os clientes dizem que é mais barato principalmente
porque não cobram taxas extra pela carga que o passageiro leva. Os
carregadores transportam as pessoas às costas e, pelo mesmo preço,
trazem as sacas equilibradas na cabeça ou presas aos dentes. “E
até temos um moço que tem umas orelhas de abano que dão muito
jeito porque o passageiro pode lá pendurar as cestas das compras”,
explica o Paulinho de Paçô Vieira, criador deste serviço.
O
negócio agrada a quase toda a gente, menos aos taxistas que perdem
clientes e se queixam de concorrência desleal. “Quer-se dizer,
eles não pagam gasóile, nem pneus, nem têm que deixar uma nota de
20 no cinzeiro do carro, sempre que levam o carro à inspeção.
Assim até eu fazia mais barato! E o pior é que eles enganam as
pessoas, porque não me venham dizer a mim que andar num carro de
praça é tão confortável como ir às costas de um marreco
qualquer. Às cavalitas tem de apanhar com fedor a suor do moço,
enquanto no meu táxi não cheira a nada disso... só a bicho morto,
porque tenho um gato entalado na solfage e ainda não tive vagar para
ir lá raspá-lo”, disse o taxista Emílio Barbas.
O
empresário do transporte às cavalitas nega as acusações,
afirmando que o seu serviço tem custos acrescidos: “É mentira que
a gente não tenha despesas! Fiquem sabendo que tenho de mudar as
solas dos sapatos de 5 em 5 mil quilómetros e, certas noites, não
me chegam 30 euros em Reumon-Gel para as dores nas costas. Sim que
isto de carregar com as moças às costas não é brincadeira. No
outro dia fui levar a Zeza a um jantar, em Felgueiras, e ò outro dia
tive de ir ao endireita, que eu mal me conseguia mexer”.
O
Paulinho de Paçô Vieira acusa ainda os taxistas de agredirem os
seus funcionários, sendo que o caso mais grave ocorreu na semana
passada, quando foram chamados para ir buscar um velhote ao Snack-Bar
Herculano. “Fizeram uma espera ao meu empregado, deram-lhe uma
carga de lenha e, no fim, agarraram nele, enfiaram-lhe a cabeça na
sanita e deram a descarga. A sorte é que o carregador tinha o cabelo
à escovinha e, como conseguiu limpar o sarro da retrete, o Herculano
ficou tão contente que, de recompensa, deu-lhe 20 euros e já ganhou
a tarde”, explicou o Paulinho.
©
Paulo Jorge Dias
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