terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Quarta baixa no Grupo Coral em dois meses

Mais uma voz se calou no afamado Grupo Coral de São Firmino. Desta vez foi a Camila do Chico da Lavadura, que sofreu uma perfuração do tímpano, quando escutava à porta do vizinho.


Os médicos apontam para uma paragem de três a quatro semanas, o que levou já o Eugénio, diretor artístico do coro, a afirmar publicamente que se chegou ao limite: “Ainda no domingo, tive de ir buscar dois bêbados ao café e pô-los a cantar em ‘playback’ só para fazer número”.
Na verdade, os últimos tempos foram marcados por uma série de eventos inesperados, que deixaram o coro da igreja desfalcado de quatro das suas principais vozes.

Tudo começou a seguir a Natal, quando a Adélia da Costa, conhecida como a “Adele de São Firmino”, emigrou para a Suíça. Logo a seguir, a Gertrudes do Oliveira Marreco desapareceu misteriosamente, ao que se consta, porque fugiu com um homem casado, de Santo Adrião.
Há cerca de quinze dias, novo contratempo: a Flávia da Adega Pintassilgo ficou afónica, depois de dar dois berros ao filho, quando viu as notas da escola. Segundo a família, a Flávia já fez de tudo para recuperar a voz. Até já tomou Chá de Nespereira, mas não resultou porque, quando o bebeu, já ia em Infias.

Finalmente, quando todos pensavam que o pior já tinha passado, neste fim-de-semana, a Camila do Chico da Lavadura sofreu um acidente invulgar, que a incapacita para a prática do canto. Lavada em lágrimas, cunhada explicou o sucedido: “Sabe como é, ela tem aquele vício de andar sempre a escutar às portas dos vizinhos. Ora, no sábado à tarde, o Neca da Custódia, que anda farto de aturar os Jeovás, quis fazer um furo para poder ver quem é que lhe bate a porta, antes de abrir”.
E foi nessa altura que tudo aconteceu: “Ora, calhou logo a Camila estar com o ouvido encostado à porta no momento em que o Neca pôs a ‘Blék and Déca’ a trabalhar e, olha, furou tudo! A porta, o tímpano da Camila e os brincos. Ainda por cima isso! Que eu a mim não me faz diferença o tímpano da minha cunhada. O que me chateia são os brincos com uma meia libra de ouro, que até não eram dela. Sim, que eu bem me lembro da minha sogra dizer ‘Ai, quando eu morrer é metade do ouro para cada um’. Ora, na minha maneira de ver, se é metade para cada filho, era um brinco para a Camila e outro para o meu homem. Mas ele começou logo a dizer que não gostava, andou com o brinco uma vez e fazia-lhe alergia nas orelhas. Enfim, tragédias!”.

 © Paulo Jorge Dias, 2014

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