A nova organização sindical tem como presidente o sãofirminense Zé Maria Penteado, que garantiu esta importante conquista porque um cunhado dele emprestou um armazém para ali se instalarem. Sindicato quer dignificar uma classe que, nos últimos anos, perdeu prestígio e é hoje considerado um parentesco sem importância.
O grande objetivo do novo sindicato é devolver ao cunhado um papel decisivo na estrutura familiar tradicional, em vez daquele que tem nos dias de hoje e que, dizem os cunhados, está muito desvalorizado e praticamente já ninguém lhes liga.
“Antigamente, o cunhado era uma pessoa de confiança. A gente podia contar tudo e mais alguma coisa ‒ que tinha uma amante, que gosta de andar tudo nu no meio da horta, que atropelou uma pessoa e fugiu ‒ e ele levava os segredos para a cova. Agora? Tá bem, tá! Mal eles ouvem uma coisinha vão logo a correr meter tudo no c… das mulheres”, lamenta-se Venceslau Cunha, vice-presidente do SNC.
A culpa, dizem os dirigentes do sindicato, é da falta de formação profissional. Hoje, qualquer fiel farrapo chega a uma família e diz que é cunhado, mas os sindicalistas exigem que a pessoa seja obrigada a apresentar um Certificado de Cunhadismo, que garante a idoneidade do indivíduo, assegurando que está apto para exercer as funções. Esse certificado será passado pelo Sindicato Nacional de Cunhados, após o candidato frequentar um curso de seis meses.
“O povo julga que basta a gente casar com a irmã de uma pessoa e depois as coisas caem do céu? É preciso andar ali a esfolar e esgaçar as unhas para ter direito a sentar-se à mesa num cadeirão ir buscar os melhores bocados de pica-no-chão! Eu falo por mim, que andei a penar 10 anos com pescoços de frango, até ter direito à minha primeira asa. Ai coxas e peitinhos!? Isso é que era bom!”, explicou Zé Maria Penteado, que além de presidente do SNC é também cunhado profissional.
O responsável considera que a arte de se ser cunhado está muito desacreditada, por culpa da chegada de gente sem qualificação: “Ser cunhado, hoje, não tem valor nenhum. Já ninguém nos quer para padrinhos dos filhos, ou quando o carro não pega, de manhã, pede-se ajuda ao cunhado, mas eles torcem o nariz e só ajudam a empurrar se não arranjarem uma boa desculpa. A bem dizer, o cunhado já só serve para ajudar nas mudanças e emprestar uma Black and Decker que, ainda por cima, eles depois devolvem tarde e a más horas, já sem trabalhar e a cheirar a chamusco”.
E, depois, há a questão financeira, como lembra Inácio Barriga, um dos históricos do Cunhadismo sãofirminense: “Eu, no meu tempo, a pessoa pedia dinheiro emprestado ao cunhado, nunca mais lhe pagava e ninguém levava a mal, porque ficava como um crédito. Quando o sogro morresse, abatia-se a dívida às partilhas e estava tudo pago. Hoje, por uma porcaria de uns cinco mil euritos, a pessoa não tem consideração nenhuma pelo cunhado e é logo um trinta e um! Pede fiador, cheques pré-datados, a chave do carro. Uma vergonha!”.
© Paulo Jorge Dias