quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

São Firmino vai acolher a sede do Sindicato Nacional de Cunhados

A nova organização sindical tem como presidente o sãofirminense Zé Maria Penteado, que garantiu esta importante conquista porque um cunhado dele emprestou um armazém para ali se instalarem. Sindicato quer dignificar uma classe que, nos últimos anos, perdeu prestígio e é hoje considerado um parentesco sem importância.

Cunhados queixam-se que perderam o valor e já só servem para ajudar a fazer as mudanças.

O grande objetivo do novo sindicato é devolver ao cunhado um papel decisivo na estrutura familiar tradicional, em vez daquele que tem nos dias de hoje e que, dizem os cunhados, está muito desvalorizado e praticamente já ninguém lhes liga.

“Antigamente, o cunhado era uma pessoa de confiança. A gente podia contar tudo e mais alguma coisa ‒ que tinha uma amante, que gosta de andar tudo nu no meio da horta, que atropelou uma pessoa e fugiu ‒ e ele levava os segredos para a cova. Agora? Tá bem, tá! Mal eles ouvem uma coisinha vão logo a correr meter tudo no c… das mulheres”, lamenta-se Venceslau Cunha, vice-presidente do SNC.

A culpa, dizem os dirigentes do sindicato, é da falta de formação profissional. Hoje, qualquer fiel farrapo chega a uma família e diz que é cunhado, mas os sindicalistas exigem que a pessoa seja obrigada a apresentar um Certificado de Cunhadismo, que garante a idoneidade do indivíduo, assegurando que está apto para exercer as funções. Esse certificado será passado pelo Sindicato Nacional de Cunhados, após o candidato frequentar um curso de seis meses.

“O povo julga que basta a gente casar com a irmã de uma pessoa e depois as coisas caem do céu? É preciso andar ali a esfolar e esgaçar as unhas para ter direito a sentar-se à mesa num cadeirão ir buscar os melhores bocados de pica-no-chão! Eu falo por mim, que andei a penar 10 anos com pescoços de frango, até ter direito à minha primeira asa. Ai coxas e peitinhos!? Isso é que era bom!”, explicou Zé Maria Penteado, que além de presidente do SNC é também cunhado profissional.

O responsável considera que a arte de se ser cunhado está muito desacreditada, por culpa da chegada de gente sem qualificação: “Ser cunhado, hoje, não tem valor nenhum. Já ninguém nos quer para padrinhos dos filhos, ou quando o carro não pega, de manhã, pede-se ajuda ao cunhado, mas eles torcem o nariz e só ajudam a empurrar se não arranjarem uma boa desculpa. A bem dizer, o cunhado já só serve para ajudar nas mudanças e emprestar uma Black and Decker que, ainda por cima, eles depois devolvem tarde e a más horas, já sem trabalhar e a cheirar a chamusco”. 

E, depois, há a questão financeira, como lembra Inácio Barriga, um dos históricos do Cunhadismo sãofirminense: “Eu, no meu tempo, a pessoa pedia dinheiro emprestado ao cunhado, nunca mais lhe pagava e ninguém levava a mal, porque ficava como um crédito. Quando o sogro morresse, abatia-se a dívida às partilhas e estava tudo pago. Hoje, por uma porcaria de uns cinco mil euritos, a pessoa não tem consideração nenhuma pelo cunhado e é logo um trinta e um! Pede fiador, cheques pré-datados, a chave do carro. Uma vergonha!”.


© Paulo Jorge Dias

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

São Firmino já tem motorizadas a levar bolo com sardinhas a casa das pessoas

A nossa freguesia é pioneira no Uber Tasco, um novo serviço que aceita encomendas de comida de tasco e depois vai entregá-la de mota, a casa do cliente. A pessoa só precisa de instalar a app no telemóvel e depois mandar vir pica no chão, picadinho ou bolo com sardinha.


As motorizadas não param, sempre de um lado para o outro, a entregar punhetas de bacalhau, moelas ou pica-no-chão acabados de cozinhar nos tascos da aldeia.

Quem vai muito às grandes cidades já deve ter visto umas motinhas a dizer Uber Eats ou Glovo, que andam a entregar hambúrgueres e pizzas a casa das pessoas. Mas, em São Firmino, essa comida de plástico não serve nem para dar de comer aos porcos, porque o pessoal cá da terra é mais dado a salpicões, mouros e presuntos.

"Olhe, eu no outro dia estava em casa, a descascar um diospiro quando, de repente, deu-se-me cá uns desejos de bolo com sardinha que eu até parecia que estava grávida. Só que eu, como tenho o meu home emigrado no Luxamburgo, olhe, dá-me vergonha de ir ali pr’ó tasco no meio dos outros homes. Fui ver à Internet e descobri que podia mandar vir o que eu quisesse. Foi só clicar no botãozinho e, nem meia hora depois, já cá estava o moço da motorizada. Fiquei consolada… com o bolo, não com o moço, que esse eu mandei-o dar uma volta, que eu cá sou uma rapariga séria, tirando aquela vez com o meu encarregado lá da tinturaria, mas foi por causa dos fumos, que deixam uma pessoa ourada”, disse a Belinha Pintassilga, uma das primeiras clientes deste serviço.

Mas não é a única, uma vez que o Uber Tasco está a ser um verdadeiro sucesso. Todas as noites, de sexta-feira a domingo, é um corridinho de motas de um lado para o outro, sempre a entregar os petiscos que até aqui só podiam ser comidos no tasco, mas agora podem ser saboreados no conforto do lar. Às vezes, as motorizadas até se esbarram umas nas outras, com a pressa de irem entregar a comida aos clientes.

“Inda no outro dia, vinha o Tónio numa Famel para entregar um pica-no-chão a um cliente de Revinhade, mas com o fumo que saía da panela quentinha ele não deve ter visto que vinha a sair de um cruzamento o João Geová, depois de ter ido entregar uma punheta de bacalhau ao Monte da Santa. Enfiaram-se um contra o outro com tanta força, que aquilo era arroz e frango espalhados por todo o lado… foi preciso pedir reforços aos bombeiros da Lixa e Freamunde, para virem ajudar a comer os destroços”, disse o Gomes Carteiro, que assistiu ao acidente e ajudou nas operações de remoção de pica-no-chão, comendo só ele quilo e meio que estava derramado no asfalto.

O Uber Tasco foi fundado por Zélio Balazar, um empreendedor sãofirminense que teve esta ideia de negócio numa altura em que ficou 15 dias entrevado, por motivo de ter fumado droga misturada com folhas de nespereira: “Ò senhor, não queira saber da minha aflição! Eu na cama desesperadinho por uma cebola com sal ou umas moelinhas e sem ter quem me valesse. Foi ali, deitado, que eu jurei para mim que mais ninguém havia de passar aquele sacrifício. Mal fiquei bom, agarrei na minha Zundapp e quitei-a toda para poder levar comer quentinho a quem precisasse”.

Mas o jovem empresário promete não ficar por aqui e já tem novos projetos em marcha. Para matar a sede às pessoas que dependem de um bom espadal ou tinto americano e não conseguem ir bebê-lo à tasca, dentro em breve vão circular pela nossa aldeia camiões cisterna com vinho, para irem à casa das pessoas abastecer-lhes os garrafões, pipas ou cubas.

© Paulo Jorge Dias


Goretti Cabeleireira detida por aplicação ilegal de madeixas

Dona do salão de estética foi intercetada pelas autoridades quando furou o confinamento para ir pintar o cabelo à Soraia do Quintino. Foi perseguida pela patrulha da guarda, mas conseguiu escapar deitando um balde de tinta para cima dos agentes, que ficaram completamente loiros, da cabeça até às sobrancelhas.


Durante o Estado de Emergência a atividade de cabeleireira foi remetida à clandestinidade e quem quiser arranjar o cabelo tem de o fazer às escondidas, se não vão presas e, pior do que isso, obrigadas a andar descabeladas.

Ao fim de 15 dias fechados em casa, os sãofirminenses fazem tudo e mais alguma coisa para fugir da quarentena. Uns agarram no carro e vão daqui à Póvoa do Varzim a dizer que vão buscar um remédio que só se vende nas farmácias de lá, outras saem de casa para ir ao talho todas despenteadas e voltam sem carne mas com o cabelo todo muito bem arranjado.

Foi o caso da Soraia do Quintino: “Olhe, mas o que é que você quer!? Eu, cada vez que olhava para o espelho, apanhava semelhante susto que até ficava taquicardíaca! O buço grande e as unhas descascadas eu ainda disfarçava com máscara e luvas. Mas o resto, valha-me Deus! O cabelo parecia uma esfregona… até já estava a ficar com a raiz preta. Prontos, tive que chamar a Goretti para me dar um jeitinho às madeixas”.

Como o Estado de Emergência obrigou ao fecho das cabeleireiras, a Goretti lembrou-se de enganar as autoridades colocando um letreiro a dizer Talho. E foi assim que, na passada terça-feira, abriu as portas para receber a Soraia, que precisava de se pôr bonita, porque se lhe estavam a acabar as fotografias para meter no Instagram.

“Só que os meus vizinhos aqui da rua são uns ordinários do caraco e foram logo fazer uma acusa. Passados nem 10 minutos, tinha dois GêNêéRres à porta, mas eu quilhei-os porque saltei pela janela de trás e fugimos eu e mais a cliente. Só que, por azar, a tinta ainda não estava bem seca, por isso, o cabelo foi a pingar até ao carro e os geninhos só tiveram que seguir o rasto de loiro 45”, contou o Goretti.

De imediato teve início a perseguição, com a patrulha da guarda a seguir de perto a carrinha da cabeleireira que, depois de várias manobras perigosas, acabou por desvencilhar-se dos agentes, lançando pelo vidro fora um balde de tinta para o cabelo. Atingiu o carro patrulha, partindo o parabrisas e acertando em cheio na cabeça dos dois GêNêéRres, que ficaram imediatamente loiros e tiveram de ser socorridos. À hora de fecho desta edição, os médicos estavam ainda a tentar recuperar a cor natural dos seus cabelos, mas com poucas esperanças. 

Entretanto, a Goretti escapou mas não por muito tempo. Alguns quilómetros mais adiante, o secador de cabelo que levava no colo caiu para o chão do carro e o fio ensarilhou-se-lhe nas pernas, impedindo-a de travar numa curva, o que a levou a despistar-se contra outro jipe da guarda, que fazia uma operação-stop. A cabeleireira foi logo ali detida pelo crime de aplicação ilegal de madeixas.

© Paulo Jorge Dias

quinta-feira, 16 de abril de 2020

São Firmino usa gelatina de bagaço para substituir álcool em gel

Desinfetante de mãos está a ser vendido a preços exorbitantes, o que leva os sãofirminenses a improvisar. Como o bagaço produzido na nossa região é 10 vezes mais forte do que o álcool etílico, o pessoal aqui da aldeia lembrou-se de fazer gelatina de bagaço e usá-la para desinfetar as mãos.


O desinfetante made-in São Firmino está a ser comercializado como Bagaço-Gel
e diz que mata o corona 10 vezes mais depressa.

Já se sabe que a melhor maneira de nos protegermos do Covid-19 é estar sempre a lavar as mãos e a desinfetá-las com álcool, de preferência com álcool em gel. Mas, desde que começou esta crise do Coronavírus que os preços dispararam de tal maneira que, nalgumas lojas, sai mais barato passar as mãos por whisky de 20 anos do que comprar o desinfetante.

"Eu cá sempre lavei as mãos com sabão rosa e, quando muito, limpava de longe a longe o esterco das unhas com lixívia negra, mas só quando tinha de ir a uma comunhão ou batizado. Agora, diz que a pessoa tem de desinfetar as mãos com álcool, mas eu para mim é um desperdício, porque álcool só se for para desinfetar um home por dentro, que é o que eu faço todos os dias de manhã, quando tomo uma cevada com um balão de bagaço", contou o Tino Tone, vendedor de canhotas que, à semelhança de toda a gente aqui da aldeia, passou a desinfetar as mãos com álcool, que é como deve ser.

Com as embalagens de 500 ml a atingirem preços na casa dos 30 e 40 euros, o povo de São Firmino não se conformou e decidiu inventar uma alternativa, que não pusesse em risco a saúde das suas carteiras nem a vida das pessoas. Vai daí, apareceu o Professor Vidrinhos, cientista amador da nossa terra, que passou uma semana a fazer testes ao bagaço sãofirminense ‒ e mais outra semana a recuperar da ressaca ‒ e chegou à incrível conclusão de que esta bebida é 10 vezes mais eficaz para matar o novo coronavírus do que o álcool dos desinfetantes.

“Ora bem, a gente já andava há uns meses a fazer experiências com uma gelatina de bagaço, que era para ver se convencíamos o pessoal mais jovem a tomar o gosto à pinga, porque a moçarada não é muito amiga de beber e, comendo o bagaço, se calhar marchava melhor. Vai daí, o Vidrinhos enfardou quilo e meio e, em antes de desmaiar, mandou-me engarrafar a gelatina e vendê-la como bagaço-gel desinfetante”, explicou o engenheiro Ampolas Antunes, assistente do Vidrinhos, que foi obrigado a tomar da investigação, depois do Professor ter entrado em coma alcoólico.

O produto está a ser um sucesso e garante elevado nível de proteção contra o vírus. Depois de aplicarem nos dedos, mesmo que as pessoas não resistam ao cheirinho a bagaço e lambam as mãos, a bebida é tão potente que não há Covide-19 que lhe resista. Entretanto, o Estado de Emergência está a ser respeitado por toda a gente em São Firmino, pelo menos durante o horário de trabalho. Porque, depois das 5 e meia, há sempre quem peça para ir fazer quarentena fora de casa, alguns até nos sítios mais improváveis, como explica o Sargento Óscar Bravo, comandante do nosso posto da Guarda.

“Pois, a nossa patrulha já se deparou com várias situações insólitas, nomeadamente um grupo de homens que quis fechar-se na boîte do Antero para fazer lá a quarentena, para além do caso de um pai de família que disse que ia só ali passear o cão e voltou três dias depois, sem roupa, nem dinheiro, nem o cão, mas cheio de chupões no pescoço e com as costas todas arranhadas”.


© Paulo Jorge Dias

segunda-feira, 2 de março de 2020

Vírus dos chineses já chegou a são Firmino

O Vítor China entrou no café a tossir e aos espirros. Levou dois cachaços para lhe passar o catarro, mas como não melhorou ficou internado no sótão do Posto Médico. Já a Lígia Cabeçuda foi à Loja dos Chineses e voltou com febre, por isso está de quarentena no quarto da pensão onde dorme um médico de Quarteira que está aqui a fazer o estágio. 


À falta de máscaras, o povo inventa de tudo um pouco, até há quem rasgue os garrafões de plástico e os meta a tapar a cara, que é para o vírus não entrar.


A aldeia de São Firmino está em estado de alerta, depois de terem surgido os dois primeiros casos da doença que está a assustar o mundo e que é conhecida entre nós como Vírus dos Chineses. Vitor China e Lígia Cabeçuda apresentaram sintomas do coronavírus e estão já internados para não contagiar mais ninguém.

"A gente estava aqui tudo na boa, a mamar finos e a ver futebol, quando aparece o Vítor com o nariz a pingar… era atchim para aqui, atchim para ali. De repente, dá semelhante espirro que nos encheu o ecrã do plasma com perdigotos e aí, o pessoal não teve perdão. Enfiei-lhe duas bem dadas no cachaço e, de castigo, ele ficou nos cuidados intensivos, que é como quem diz: fechado no sótão do Centro de Saúde, com uma garrafa de bagaço ligada às veias", explicou o enfermeiro Quim Carlos, que estava de folga mas ainda assim prestou os primeiros cuidados de saúde ao Vítor.

Apesar das pessoas de fora acharem que ele tem origem asiática, a verdade é que o Vítor China é assim chamado por ter a cara muito redonda e os olhos achinesados. Os médicos também suspeitaram que ele tivesse viajado para a Ásia, mas o povo riu-se quando ouviu isto. Não só o Vítor nunca foi à China, como não foi a mais lado nenhum. Aliás, há fortes suspeitas de que ele nunca tenha saído daqui da zona, sendo que o sítio mais longe onde o viram foi num café em Infias e só porque lhe disseram que ali as raspadinhas davam sempre prémio.

Os sãofirminenses ainda não estavam refeitos deste primeiro susto e logo foram surpreendidos por uma nova suspeita de vírus dos chineses. A Lígia, mulher do Tozé Cabeçudo, poderá estar infectada e foi, por isso, sujeita a um internamento compulsivo, como nos conta a própria, em conversa por telemóvel, mas com um paninho à frente do bocal do aparelho porque diz que até por telefone se pode apanhar o vírus:

“Ò senhor, eu estava assim a sentir muitas dores no corpo e arrepios de frio e, à cautela, fui medir a febre, mas não sabia do termómetro, o que não é de estranhar, porque o meu homem às vezes enfia-o no pacote e, depois, esquece-se de o tirar e tem alturas que anda aos 15 dias seguidos com ele lá dentro. Vai daí, olhe, fui à loja dos chineses comprar um e, quando vim de lá, estava cheia de febre. Como o senhor da loja estava numa video chamada do WhatsApp com um primo lá da terra dele que, vi eu, estava sempre a tossir, eu associei que tivesse apanhado o vírus através da Internet. Fui dali a correr ao Posto Médico e estava lá o Doutor Cara-Linda, que acho que é Zé Pedro, mas a gente chama-lhe assim. Ele mandou-me tirar a roupa e, mal me viu despida, mandou-me logo ficar 15 dias em quarentena, num quarto que ele alugou ali na Pensão”.

Entretanto, a Junta de Freguesia está já a estudar medidas que podem ser tomadas para proteger a população: “A primeira coisa que a gente pensou foi logo ir a correr chegar lume à Loja dos Chineses, porque não há dúvidas que é de lá que vem o foco de contágio. Juntamos umas pinhas e uns pauzinhos, fomos lá dentro da loja comprar umas acendalhas e ateamos o fogo, mas houve logo um desmancha-prazeres que veio dizer “ai, e tal… isto fica mesmo colado à bomba de gasolina e, ainda se arranja aí uma explosão”. E eu, pronto, lá tive de ir buscar um extintor e dar com ele nas costas do indivíduo que estava armado em esperto. Depois, olhe, como aquilo disparou sem querer e apagou o incêndio, fui-me embora, amuado”, disse o presidente da Junta, Zé Miguel.


© Paulo Jorge Dias

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Extraterrestres visitam São Firmino

Estacionaram OVNI à porta do café do Herculano e foram tomar uma Macieira. À saída arranharam a carrinha do Gusto e raptaram um moço que toca na banda, que abandonaram em Ribeira de Pena.


Extraterrestres bêbados estacionaram de qualquer maneira à porta de casa, tendo um deles ficado a dormir toda a noite no jardim

Os habitantes de São Firmino andam aterrorizados e têm medo de sair de casa à noite, depois de se saber que os extraterrestres visitaram a aldeia no passado sábado à noite.

Segundo vários depoimentos recolhidos pelo nosso jornal, um OVNI sobrevoou a aldeia, tendo destruído várias antenas parabólicas e arrancado dois estendais com roupa interior feminina. A seguir, parou na bomba de gasolina do Simões, onde os dois ETs aproveitaram para ver a pressão dos pneus e mudar uma luz de travagem que estava fundida.

Eles entraram aqui muito verdes e eu até perguntei se eram da claque do Moreirense, mas eles disseram que não, que estavam mal dispostos porque tinham passado a tarde a beber vinho doce, numa quinta, ali na zona de Vila Fria. Pediram dois quartos de águas com gás e o mais baixinho foi a correr para a casa de banho chamar ao Gregório”, contou o Simões.

Depois disso, os extraterrestres meteram-se outra vez no OVNI e rumaram à rua principal, tendo estacionado à porta do café Herculano. Os clientes não estranharam porque estavam quase todos bêbados e porque andava por lá um cliente que é emigrante no Canadá e disse que era um destes carros elétricos novos, que se usam muito por lá.

Das duas, uma: ou eram marcianos ou eram de Alfaxim, porque eu conheço um moço de lá que é assim como eles. Meio orelhudo e anda sempre com o cabelo cheio de penachos, até parecem umas antenas”, disse o Herculano, que os atendeu ao balcão e lhes serviu duas Macieiras e um Croft. 

À saída, ainda houve uma discussão porque o OVNI arranhou o para-choques da carrinha do Gusto, mas os ânimos acalmaram-se quando o ET que ia ao volante disse que o tio era dono de uma oficina de chapeiro, em Pevidém, e o Gusto podia mandar lá a carrinha que não lhe levavam nada pelo arranjo.


Mas as peripécias dos dois extraterrestres não ficaram por aqui. Na mesma noite, terão raptado um jovem músico da Sociedade Filarmónica de São Firmino. O André da Sandrinha diz que regressava dos ensaios quando viu uma luz forte e desmaiou.

O moço acordou de manhã, já muito para lá de Fafe, e ligou aos pais para o irem buscar. A família já não estranha estas coboiadas porque já não é a primeira vez que ele apanha uma moca, põe-se empoleirado na ponte da autoestrada e faz chichi para cima dos carros”, explicou a Aidinha do Pomar, tia do jovem.

Desta vez terá corrido e mal e os extraterrestres podem não ter gostado de lhes terem urinado no para-brisas. Ou isso, ou então o André desequilibrou-se, indo cair na galera de um camião, onde adormeceu e só terá saído de lá de cima quando a viatura passou na portagem de Ribeira de Pena e, com os solavancos da Via Verde, ele foi atirado para a berma da estrada.


© Paulo Jorge Dias

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

São Firmino muda-se de armas e bagagens para a Póvoa do Varzim e Vila do Conde


Nos primeiros dias de praia, o Costa Caseiro teve uma paragem de digestão, por causa da água do mar ser muito salgada, e o gang do Quitó roubou um tupperware com panados. O padre Ferreira já mandou avisar que vai fazer uma ação de fiscalização para controlar o tamanho dos biquinis e o Quintino Maluco fez-se passar por médico, para inspecionar os peitos das senhoras.



O Padre Ferreira avisou que vai fazer uma visita surpresa às praias da região, para fiscalizar o tamanho dos biquínis, obrigando a penitências pesadas em caso de topless


Quem chegar a São Firmino por estes dias há de pensar que se tratava de uma aldeia deserta. A culpa é das férias que, como já é tradição, levam a freguesia inteira para as praias da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, durante a segunda quinzena de agosto.


Está cá toda a gente! O Herculano fechou o café e desmontou uma barraca de praia para fazer lá dentro uma tasquinha, que está sempre cheia porque toda a gente quer ver o triquini da Belém. Também veio o João Orlando, da pastelaria Regueifas do Rio Vizela, que trouxe a prima Lucinha e andam os dois a vender bolas de Berlim e língua da sogra”, contou o Costa Caseiro.

Aliás, foi o Costa quem protagonizou o primeiro incidente, junto ao farol: “Mal aqui cheguei estava um calor que valha-me Deus e eu, olhe, atirei-me logo ao mar. Não sei se foi por beber  uma cerveja muito gelada, se foi por bater com a cabeça num penedo ou por a água estar muito salgada, só sei que se me parou a digestão e gomitei cá para fora o frango surrasco que comi em Balasar, que a gente ò pr'a cá faz lá sempre uma paragem para urinar e rezar à santinha”.

Quem promete não dar tréguas aos veraneantes é o padre Ferreira, que já avisou que não admite poucas vergonhas e vai fazer uma visita surpresa às praias da região, para fiscalizar o tamanho dos biquínis. “Ai daquela que eu apanhar a fazer topless ou com umas cuecas de fio dental na parte de baixo, daquelas que deixam as bochechas todas à mostra. É logo obrigada a rezar 50 ‘Pai Nossos’ e 30 ‘Avé Marias’, ali no meio do areal”, avisou o padre.

Além desta ação de fiscalização, que será feita com a ajuda da Rosa pequenina e do Camilo sacristão, o Padre pretende também celebrar uma missa na esplanada do Caximar. “O senhor padre até pediu ao dono do restaurante que emprestasse o aparelho do Karaoke, porque notou que muita gente só canta o refrão do ‘Santo é o Senhor’ e ele quer ver toda a gente a cantar a música até ao fim”, explicou o sacristão.

Igualmente presente está o o temido Gangue do Quitó. O famoso grupo de meliantes hospedou-se em casa de um pescador que já esteve preso com o César francês, em Paços de Ferreira, e já começou a fazer das suas.

Em cinco dias já foram registados três assaltos. No primeiro, foi roubada uma geleira com garrafas de cerveja e um Sumol de ananás, no segundo os ladrões levaram um tupperware de panados e uma garrafa de espadal que estava a refrescar à beira mar e, no terceiro assalto, foi levado o pano de uma barraca, fazendo passar uma vergonha ao casal que estava lá dentro a fazer o amor”, contou à nossa reportagem um agente da Polícia Marítima, que pediu o anonimato, porque entretanto se envolveu com a Sónia Badalhoca e não quer que ela saiba o verdadeiro nome dele, até porque disse que se chamava Jason Statham e ela acreditou.

Outro motivo de preocupação para as autoridades é o famoso doente mental Quintino Maluco. Ninguém estava a contar com ele, mas o Quintino lá arranjou maneira de fugir novamente da Casa Amarela, em Barcelos. Mal ouviu dizer que as mulheres de São Firmino andavam pela praia em biquíni, enfiou-se no cesto das cuecas e meias sujas e saiu da casa de saúde escondido na carrinha da lavandaria.

Pelo meio, aproveitou para roubar uma bata de médico e, mal chegou a Vila do Conde, dirigiu-se às mulheres da nossa freguesia, apresentando-se como Inspetor Geral das Atividades Mamárias, com o pretexto de lhes fazer um exame aos peitos. “Ai, ele foi muito meiguinho e até me detetou um problema de saúde. Diz ele que eu sofro de pelos nos mamilos e receitou-me uma pinça para os tirar”, disse a Zeza, que esteve cerca de meia hora fechada na barraca com o Quintino.

© Paulo Jorge Dias

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Disseram aos vizinhos que iam de férias e ficaram fechados na garagem


Uma família de São Firmino não tinha dinheiro para as férias, mas fez de conta que foi de viagem e escondeu-se na garagem de casa. Vizinhos ouviram barulhos e viram fumo do grelhador, por isso chamaram os bombeiros que entraram pela casa dentro e descobriram-nos a falsificar selfies para porem no Facebook, a fazer de conta que estavam no Brasil.




Família punha imagens bonitas na televisão e tirava fotografias a fazer de conta que estavam de férias num destino paradisíaco.

Todos os anos, por esta altura do ano, repete-se o ritual. Centenas de famílias de São Firmino deixam a nossa aldeia, rumo às praias para aproveitarem a segunda quinzena de férias no Algarve, na Póvoa do Varzim ou, para os menos abonados, num tanque ali em Alfaxim que faz o efeito de uma piscina.
Claro que alguns alargam-se nos gastos durante as Festas de São Firmino e, depois, não lhes sobra dinheiro para ir para fora. É o caso da família do Zé Vítor das Trinchudas que, apesar de ter gasto o subsídio de férias todo em bifanas e farturas, convenceu toda a gente que ia passar 15 dias ao Brasil.
Eles andaram a espalhar por aí que embarcavam no dia 15 para Fortaleza e iam lá estar até ao fim do mês num Hotel de 5 estrelas, com tudo incluído. Saíram daqui com as malas na capota do carro, até levavam a escova de dentes ao dependuro e tudo. Foi-se a ver, era tudo mentira e estavam escondidos na loja”, contou o João Gregório, vizinho da frente e afamado coscuvilheiro de São Firmino.
Ao que parece, o Zé Vítor e mulher, a Cristininha, aperceberam-se que o dinheiro não chegava para irem de férias e, por isso, armaram um esquema: durante os 15 dias em que deviam estar fora esconderam-se na garagem e ficaram muito caladinhos, que é para ninguém perceber que estavam em casa.
Para enganar o povo, começaram a falsificar selfies deles a passear no Brasil. Punham a dar na televisão imagens de praias todas bonitas e, depois, metiam-se em frente ao ecrã e tiravam fotografias a fazer de conta que lá estavam”, contou a Silvinha da Agência de Viagens Guerra. A funcionária explicou que, realmente, o Zé Vítor chegou a ter a viagem marcada, mas desistiu quando descobriu que era o slogan da empresa era “Agência de Viagens Guerra – ou pagas ou ficas em terra”.
Durante alguns dias o esquema resultou e as pessoas acreditaram mesmo que as fotografias que eles meteram no Facebook eram verdadeiras. Pensavam que a família estava nas praias do nordeste brasileiro quando, na verdade, estavam os cinco fechados na garagem, a comer salsichas e arroz de atum, todos muito caladinhos que era para ninguém os ouvir.
Até que, na sexta-feira, o vizinho João Gregório começou a ver fumo a sair da garagem: “Para ficaram morenos, o Zé Vítor ligou o grelhador e puseram-se todos em frente a ele, a apanhar calor e a tostar. Ora, a gente não sabia e, pensando que estava a arder a casa, chamamos os bombeiros. Quando eles arrombaram a porta da garagem viram a família lá toda escondida... que vergonha!”.
O caso foi muito falado em toda a aldeia de São Firmino e, para não ter de encarar os vizinhos, a família do Zé Vítor diz que foi passar uns dias numa casa de turismo rural, ali para os lados do Gerês. Mas os vizinhos desconfiam que desta vez esconderam-se todos na corte dos porcos.
© Paulo Jorge Dias


quinta-feira, 29 de março de 2018

Padre manda compasso ao Algarve para apanhar famílias que foram de férias

Muitas famílias de São Firmino aproveitam a Páscoa para tirar férias e, quando o compasso vai a casa deles, bate com o nariz na porta. Para acabar com esse flagelo, o Padre Ferreira mandou o Osvaldo da Comissão Fabriqueira para as praias algarvias, onde vai dar a cruz a beijar aos saofirminenses. Leva também um multibanco portátil para os fiéis não terem desculpa para não pagar a obrada.
Há 2 anos, o Padre Ferreira enviou um seminarista ao Algarve, durante a Páscoa, mas este desapareceu misteriosamente. Para evitar novo fracasso, desta vez foi o campeão da cobrança de obradas, Osvaldo da Comissão Fabriqueira.



Este ano, além dos vendedores de gelados e bolas de Berlim, as praias do Albufeira, Tavira e Armação de Pêra vão ter uma nova atração: uma cruz do compasso, que vai andar pelo areal à procura de paroquianos de São Firmino que estejam de férias no Algarve.

A ideia é combater esse flagelo que tem custado milhares de euros aos cofres da paróquia. Isto porque, todos os anos, muitas famílias aproveitam as férias da Páscoa para saírem de São Firmino e assim terem uma boa desculpa para não abrir a porta ao compasso.

"Eles julgam que brincam comigo mas eu vou quilhá-los bem quilhados. Quando eles estiverem lá, de nalgas viradas para o sol e a tirar selfies para meter no Facebook... tunga! Aparece-lhes o Osvaldo e os escuteiros com a cruz e eles vão ter que beijar o senhor e pagar a obrada, que eles lá por irem ao Algarve não julguem que são mais que os outros", explicou o Padre Ferreira, em conferência de imprensa.

Batizada de “Operação Páscoa na Praia”, esta missão vai levar um multibanco portátil, a pensar nas pessoas que usam a desculpa do “ai, nunca trago dinheiro para a praia”. A operação mobilizou ainda uma equipa de elite, liderada pelo Osvaldo, considerado o melhor cobrador de obradas pela Arquidiocese de Braga, pelo 5.º ano, consecutivo.

“Ele é do caraco! Se a pessoa faz de conta que não está, ele bate à porta horas a fio até o desgraçado se cansar. Até houve uma vez que a gente percebeu que havia povo lá dentro e ele não esteve com mais: agarrou na cruz e usou-a como se fosse um pé de cabra para arrombar o portão de casa”, disse o Camilo Sacristão.

Com o Osvaldo segue também o Delfim Rasteirinho, conhecido por entrar por janelas, postigos e chaminés, quando os paroquianos se escondem em casa para não abrir a porta ao compasso. “Um dia, lembrou-se e subiu ao telhado pela caleira e, quando chegou lá acima, levantou as telhas e deu com a família do Celso da Cartonagem na sala, a ver televisão. Vai daí, agarrou no balde com água benta e... chus! Entornou-o pela cabeça do Celso”, lembrou o Osvaldo.

A equipa inclui ainda a Célia do Cardoso que, segundo diz o povo, tem visão Raio X. Isto porque só de olhar para o envelope ela vê logo se está vazio ou se tem só uma nota de 5 euros, obrigando a pessoa a meter pelo menos 10, se não ninguém lhe sai da porta de casa.

A missão no Algarve vai ainda contar com o apoio de alta tecnologia, visto que o Padre Ferreira recorreu aos serviços do Nelinho Busca-pólos, afamado inventor de São Firmino, que criou um drone para sobrevoar as zonas balneares do Algarve. O aparelho vai filmar em tempo real os turistas e as imagens vão ser transmitidas para a sacristia, em São Firmino, onde a Camila do Chico da Lavadura – famosa coscuvilheira que reconhece toda a gente da aldeia – estará em frente a um ecrã gigante, a identificar os nossos paroquianos, comunicando depois via rádio a sua localização ao Osvaldo.

Também se pensou em pôr a circular na Via do Infante uma viatura descaraterizada, preparada para detetar e perseguir os paroquianos mal chegassem ao Algarve, obrigando-os logo ali a parar, beijar a cruz e entregar o envelope. Mas o recente aumento no preço dos combustíveis levou o Padre Camilo a adiar este projeto. 


© Paulo Jorge Dias

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

São Firmino atingido por violento sismo

Parecia o fim do mundo. A terra tremeu durante meio minuto, mas foi o suficiente para deixar a nossa aldeia de pernas para o ar. Além dos estragos, houve vários feridos, sendo o mais grave deles o Zé da Mila, que estava na cama e foi esmagado pela mulher, que pesa 160 quilos. Foi preciso tirar as telhas e puxar a Mila por um guindaste. 


Ferido mais grave foi o Zé da Mila, esmagado pela mulher que, por causa do sismo, rebolou sem querer para cima dele.

O sismo teve a magnitude de 0,5 na escala de Richter, que é o equivalente a ter o vizinho de cima a arrastar os móveis, mas foi quanto bastou para semear o caos e a destruição na aldeia de São Firmino.
A terra começou a tremer cerca das 3 da manhã, uma hora em que estava tudo a dormir. Foi o caso do Castro da Drogaria, que ficou ferido gravemente quando caiu do primeiro andar, isto apesar de ele morar no segundo piso.

“Foi tudo muito de repente. Eu adormecei no sofá, a ver o resumo do CCD de Santa Eulália e, de repente, senti tudo a abanar. Quando dei por ela, já eu estava no apartamento de baixo, deitado na cama da minha vizinha Perpétua. Nem deu tempo para aproveitar porque, nisto, chega o marido dela da boîte e, como ele é caçador e já foi campeão de tiro aos pombos, só tive tempo de saltar da janela abaixo”, contou o Castro.

Alguns feridos foram assistidos no local, como foi o caso do Abílio dos Seguros, que levou uma chapada na boca porque a mulher pensou que o tremor de terra fosse ele a ressonar em voz alta. Mas houve quem tivesse de ser assistido no Hospital. Uma dessas pessoas foi a Alexandrina das Nêsperas, que veio à janela ver o que se passava e levou com um vaso que caiu da janela da vizinha de cima.

“Eu vim cá fora espreitar porque ouvi um barulho tipo 'tum, tum', mas pensei que fosse o vizinho de cima a abanar com a cama. Ele costuma fazer isso quando vem da França e chega com a folia toda, mas depois lembrei-me que a mulher dele está cá sozinha e eu achei que era para aí o picheleiro que veio tapar-lhe uma fuga no bidé, porque diz-se que a rapariga se porta mal e ela realmente vai todos os dias à padaria só com leggings e sem mais nada por baixo, deve ser para fazer reclame”, disse a Alexandrina.

O caso mais grave acabaria por ser o do Zé da Mila, que ficou esmagado e teve de ser socorrido pelos bombeiros, como contou à nossa reportagem o comandante Zeferino Ventura: “O tremor de terra abanou-lhe a cama e a mulher, que tem 160 quilos, rebolou para cima dele e o desgraçado ficou ali aflito sem se conseguir mexer. Lá soltou um dedo e conseguiu telefonar para o 112, mas foi um berbicacho jeitoso... a gente levou ali uma hora e meia para o tirar de lá, porque a mulher não acordava nem por nada. Foi preciso abrir as telhas e mandar vir uma grua das obras para levantar a senhora e tirar o marido lá de baixo”.

No meio de toda a destruição causada pelo sismo, ainda houve quem não desse por nada. “Eu tive azar porque nessa noite, como era fim de semana, ia para tomar o Viagra mas, com a pressa, enganei-me e mamei um Xanax. Dormi seguidinho até às oito, mas a minha Chica diz que acordou com um brrroc brrroc a meio da noite, só que não ligou porque julgou que era o nosso filho, João Otávio, a arrastar a mobília. Ele é drogado e já não era a primeira vez que me fugia com uma escrivaninha para pagar uma dose de farinha misturada com um benuron esmagado”, disse o Ilídio das Cabaças.

Há, no entanto, suspeitas de que não houve sismo nenhum e foi tudo um arranjo de vida, para dar a banhada à companhia de seguros. Aliás, já não seria a primeira vez que os habitantes de São Firmino inventavam uma catástrofe. Em 1983 metade da aldeia foi destruída por uma avalanche de caldo verde, mas na altura conseguiram convencer toda a gente que foi o vulcão Ofélia que entrou em erupção.

Na verdade, o que se passou foi que um grupo de amigos se juntou no cimo do monte para tentar bater o recorde do Guiness para a maior panela de caldo verde. Levaram uma cisterna de 20 mil litros que tombou e derramou a sopa pela encosta abaixo. Além do dinheiro do seguro, ainda receberam subsídios do estado e equipas de resgate que vieram ao engano e acabaram a trabalhar de graça nas vindimas.

© Paulo Jorge Dias