quinta-feira, 16 de abril de 2020

São Firmino usa gelatina de bagaço para substituir álcool em gel

Desinfetante de mãos está a ser vendido a preços exorbitantes, o que leva os sãofirminenses a improvisar. Como o bagaço produzido na nossa região é 10 vezes mais forte do que o álcool etílico, o pessoal aqui da aldeia lembrou-se de fazer gelatina de bagaço e usá-la para desinfetar as mãos.


O desinfetante made-in São Firmino está a ser comercializado como Bagaço-Gel
e diz que mata o corona 10 vezes mais depressa.

Já se sabe que a melhor maneira de nos protegermos do Covid-19 é estar sempre a lavar as mãos e a desinfetá-las com álcool, de preferência com álcool em gel. Mas, desde que começou esta crise do Coronavírus que os preços dispararam de tal maneira que, nalgumas lojas, sai mais barato passar as mãos por whisky de 20 anos do que comprar o desinfetante.

"Eu cá sempre lavei as mãos com sabão rosa e, quando muito, limpava de longe a longe o esterco das unhas com lixívia negra, mas só quando tinha de ir a uma comunhão ou batizado. Agora, diz que a pessoa tem de desinfetar as mãos com álcool, mas eu para mim é um desperdício, porque álcool só se for para desinfetar um home por dentro, que é o que eu faço todos os dias de manhã, quando tomo uma cevada com um balão de bagaço", contou o Tino Tone, vendedor de canhotas que, à semelhança de toda a gente aqui da aldeia, passou a desinfetar as mãos com álcool, que é como deve ser.

Com as embalagens de 500 ml a atingirem preços na casa dos 30 e 40 euros, o povo de São Firmino não se conformou e decidiu inventar uma alternativa, que não pusesse em risco a saúde das suas carteiras nem a vida das pessoas. Vai daí, apareceu o Professor Vidrinhos, cientista amador da nossa terra, que passou uma semana a fazer testes ao bagaço sãofirminense ‒ e mais outra semana a recuperar da ressaca ‒ e chegou à incrível conclusão de que esta bebida é 10 vezes mais eficaz para matar o novo coronavírus do que o álcool dos desinfetantes.

“Ora bem, a gente já andava há uns meses a fazer experiências com uma gelatina de bagaço, que era para ver se convencíamos o pessoal mais jovem a tomar o gosto à pinga, porque a moçarada não é muito amiga de beber e, comendo o bagaço, se calhar marchava melhor. Vai daí, o Vidrinhos enfardou quilo e meio e, em antes de desmaiar, mandou-me engarrafar a gelatina e vendê-la como bagaço-gel desinfetante”, explicou o engenheiro Ampolas Antunes, assistente do Vidrinhos, que foi obrigado a tomar da investigação, depois do Professor ter entrado em coma alcoólico.

O produto está a ser um sucesso e garante elevado nível de proteção contra o vírus. Depois de aplicarem nos dedos, mesmo que as pessoas não resistam ao cheirinho a bagaço e lambam as mãos, a bebida é tão potente que não há Covide-19 que lhe resista. Entretanto, o Estado de Emergência está a ser respeitado por toda a gente em São Firmino, pelo menos durante o horário de trabalho. Porque, depois das 5 e meia, há sempre quem peça para ir fazer quarentena fora de casa, alguns até nos sítios mais improváveis, como explica o Sargento Óscar Bravo, comandante do nosso posto da Guarda.

“Pois, a nossa patrulha já se deparou com várias situações insólitas, nomeadamente um grupo de homens que quis fechar-se na boîte do Antero para fazer lá a quarentena, para além do caso de um pai de família que disse que ia só ali passear o cão e voltou três dias depois, sem roupa, nem dinheiro, nem o cão, mas cheio de chupões no pescoço e com as costas todas arranhadas”.


© Paulo Jorge Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário