sexta-feira, 10 de março de 2017

Camião do circo tombou na rotunda e os animais andam à solta

São Firmino tornou-se numa espécie de Jardim Zoológico a céu aberto. Dezenas de animais selvagens passeiam-se pela aldeia, depois de um acidente com o camião do circo. Jiboia entrou pela canalização e agora anda a sair pelas sanitas, tigre tentou assaltar o talho e levou um tareão do Américo e a zebra foi atropelada depois de ser confundida com uma passadeira.

O dono do circo Pereirini diz que o chimpanzé está habituado a conduzir carros e camiões, mas despistou-se porque naquele dia se enervou ao ver um gato na estrada.

Tudo aconteceu na quarta-feira, dia em que estava prevista a chegada a São Firmino do Circo Pereirini, cuja visita era há muito aguardada pelos homens da aldeia, depois da inesquecível atuação do ano passado, quando a trapezista Senhorinha falhou um salto e aterrou de pernas abertas na cara do presidente da Junta. Mas tudo ficou adiado devido ao trágico acidente de viação.

Olhe, isto foi um azar. O Patrício, que é o nosso condutor do trailer, parou na beira da estrada para ir comprar umas nêsperas e uns pêssegos carecas ali em Lustosa. Mas, como a mulher da fruta o enganou no troco, voltou para trás a reclamar e, quando deu por ela, já o camião ia estrada fora”, explicou Zequinha Pereira, dono do circo e domador de lontras.

Inicialmente, ainda se constou que tinha sido o gangue do Quitó a levar a viatura para ir vender o elefante ao matadouro, mas depois percebeu-se que, afinal, foi um chimpanzé que – não se sabe muito bem como – abriu a porta da jaula e saltou para o volante do camião que trazia os animais do circo.

Ò senhor, o problema não foi o chimpanzé Chiquinho ir a guiar o camião, porque o bicho já fez muito quilómetro e nunca houve nenhum azar. O Patrício disse-me a mim que muitas vezes lhe dava o sono a meio da viagem e passava o guiador para as mãos do Chiquinho. Ele era capaz de ir direitinho daqui até ao Algarve e se fosse preciso até metia gasóleo sem acordar o chófer. O problema foi mas é o raio do gato”, disse o Zequinha.

Isto porque o chimpanzé, ao chegar à rotunda dos capotanços – situada à entrada de São Firmino – avistou um gato no meio da estrada e guinou o volante, para ver se lhe acertava, uma manobra que terá aprendido com o motorista Patrício. Perdeu o controlo do camião que galgou a rotunda e tombou para o lado, abrindo a porta e deixando fugir mais de 20 animais.

Ai Jasus, que aquilo era a fim do mundo... só bichos e mais bichos! Mais parecia que a BBC Vida Selvagem tinha fugido pela televisão fora. Eu estava na esplanada do Herculano e, nisto, aparece uma foca e rouba-me o fino com Martini. Foi aí que se me subiram os nervos à cabeça, agarrei num camelo que vinha a passar e espetei-lhe dois morros no focinho. Só depois é que dei conta que era o meu afilhado que é um mamão de primeira mas, coitado, não tem culpa de ter cara de camelo”, disse o Bino da Tia Ção.

Os animais lançaram o pânico na aldeia, provocando estragos e inúmeros acidentes de viação, tendo o primeiro envolvida a zebra. Foi atropelada por um bêbado numa fraguneta, que a confundiu com uma passadeira e, como ninguém em São Firmino para nas passadeiras, acelerou e mandou-a para o posto médico, onde foi atendida por um pintor das obras que passou três quartos de hora a retocar-lhe as riscas.

Pouco depois foi a vez do tigre fazer estragos, tentando roubar meia vitela, como explica o dono do Talho Américo: “Eu estava no frigorífico a dar um jeito nas febras da Sónia Badalhoca e sai-me o bicho de dentes arreganhados, já com a vitela agarrada às unhas e digo-lhe eu assim 'Tu não me arregales os olhos'. Ele bufou-me e... parus! Dei-lhe com quilo e meio de entremeada na boca que ele ficou para ali esticadinho no meio do chão, que mais parecia um tapete de arraiolos”.

Mais sorte teve a jiboia Lili, que conseguiu abrir uma tampa de saneamento e refugiar-se na rede de esgotos, onde permanece até hoje. Já foi vista a sair de dentro de várias sanitas o que levou dezenas de sãofirminenses a deixarem de ir à casa de banho, com medo de levarem uma ferradela nas bochechas de baixo. Em vez disso vão fazer as necessidades nas hortas, o que faz adivinhar um ano de muito boa colheita agrícola.

© Paulo Jorge Dias

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